domingo, 16 de outubro de 2011

Capital paulista tem 700 espécies de animais silvestres em fragmentos de mata

SÃO PAULO - Muitos ficaram surpreendidos com o aparecimento de uma onça parda, na madrugada da última quinta-feira, no quintal de uma casa no Jardim Rincão, na Zona Norte de São Paulo, perto da Serra da Cantareira. Mas a cidade mais populosa da América Latina consegue ainda abrigar, em fragmentos de mata, animais silvestres, muitos deles espécies endêmicas da Mata Atlântica, ou seja, só são encontradas neste bioma.
RELEMBRE:Onça é encontrada em quintal de casa em São Paulo
Nos 81 fragmentos de mata existentes em São Paulo, entre áreas de proteção e parques, vivem 700 espécies, das quais 563 são vertebrados. Apenas de mamíferos são 83 espécies. Há ainda 372 tipos de aves, 45 de anfíbios e 23 de peixes.
Há felinos, como a onça-parta e a jaguatirica, cachorro-do-mato, furão, lontra, quati, veado, esquilo e foi registrado até mesmo de macaco mono-carvoeiro, o maior primata das Américas e também um dos mais ameaçados, avistado por pesquisadores no último levantamento da fauna municipal, divulgado em 2010.
Só no Parque Anhanguera são 224 espécies de animais, sendo 18 mamíferos, como o gambá de orelha preta e o sagui de tufo branco. No parque do Carmo, na Zona Leste, vivem 136 espécies. Onças pardas já foram avistadas na reserva Capivari-Monos, no extremo sul da cidade, que abriga, no total, 273 espécies.
A sobrevivência dos bichos, porém, tem sido cada vez mais difícil. Paulo Amaral, analista ambiental do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap), ligado ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, do governo federal, conta que a onça parda tem sobrevivido porque se adaptou à nova condição, de viver perto de áreas densamente povoadas. No lugar de caçar bichos maiores, ela agora de contenta com passarinhos, ratos, tatus e lagartos.

- A onça pintada precisa de caças maiores e se expõe mais. A onça parda tem um comportamento adaptativo. Sabe se esconder bem e caça à noite. Agora, consomem presas menores e ocupam território menor em relação à onça pintada - explica Amaral.
Em cidades do interior do estado, a onça parda tem habitado canaviais e plantações de eucalipto. Elas vivem bem nas plantações de cana até os meses de colheita, quando muitas fazendas ainda promovem queimadas. Muitos animais morrem ou simplesmente fogem do canavial em busca de novos esconderijos.
Alguns são atropelados em rodovias. Outros acabam entrando em áreas urbanas.
- Os encontros acontecem quando elas não têm mais para onde fugir - diz o analista.
Como as onças pardas vivem sozinhas, cada indivíduo precisa dominar um território tão logo deixa de ser cuidado pela mãe. Nos dois últimos casos registrados na Grande São Paulo, os felinos eram machos ingressando na idade adulta. Para o Zoo de Guarulhos, que abrigou a onça achada no Jardim Rincão, o motivo da fuga do animal foi uma queimada recente no Parque da Serra da Cantareira.
Paisagismo de condomínios não atraem pássaros
Na Grande São Paulo, a expansão imobiliária tem pressionado cada vez mais os animais, pois áreas antes ocupadas por matas estão sendo abertas para construção de condomínios. Se antigamente as áreas eram ocupadas por sítios, agora eles estão sendo transformados em loteamentos para condomínios fechados.
Também as aves sofrem com a pressão urbana. O pesquisador Johan Dalgas Frisch, uma das maiores autoridades do país em aves, diz que nem mesmo os condomínios que se gabam em dizer que preservam parte do verde estão respeitando o meio ambiente.
- A maioria não utiliza no paisagismo as plantas nativas. Eles escolhem plantas ornamentais e com menor custo de manutenção. É o mesmo problema da arborização nas cidades. Desta forma, nossas aves não têm como fazer seus ninhos ou se alimentar - afirma Frisch.
Segundo ele, é preciso optar por árvores frutíferas nos locais onde há necessidade de projetos paisagísticos e, principalmente, manter a vegetação natural. Só assim, acrescenta, a Grande São Paulo pode deixar de afugentar os pássaros. Ele lembra que nos bairros onde a população se mobilizou e plantou árvores frutíferas os pássaros retornaram.
Trinta espécies da fauna da cidade de São Paulo estão na lista das ameaçadas de extinção e 22 estão em situação de risco. Das 372 espécies de aves que vivem no município e seus arredores, 24,5% são endêmicas da Mata Atlântica e 11% constam em algum nível de ameaça das listas estadual, nacional e global.
Ainda vivem na cidade 30 espécies rapinantes (gaviões, falcões e corujas), exímios predadores, 19 de beija-flores e 25 são saíras e sanhaços, que figuram entre as aves mais coloridas e belas, segundo o inventário de fauna do município.
O ornitólogo, pioneiro na gravação de cantos de aves na América do Sul, é autor de vários livros sobre o tema. Engenheiro industrial, herdou do pai a paixão pelas aves. O pai, Svebd Frisch, desenhava aves e em 1964 os dois publicaram, em co-autoria, o livro "Aves Brasileiras". Desde então, ele segue publicando livros sobre o tema, onde o principal objetivo é levar os cidadãos a replantar árvores nativas e assim garantir, em todo país, a sobrevivência das espécies. Ele acaba de lançar o livro "Para que as primaveras não se calem para sempre", no qual alerta para os riscos e as possibilidades de preservação.


Leia mais sobre esse assunto em O GLOBO:
http://oglobo.globo.com/cidades/mat/2011/10/15/capital-paulista-tem-700-especies-de-animais-silvestres-em-fragmentos-de-mata-925588201.asp

Um comentário:

Claudia do Monte disse...

Oi Paulo, tudo bem?! Eu moro bem perto da área onde foi localizada a primeira onça, aqui em Franco da Rocha, graças a uma certa mobilização no facebook do prefeito, parece que ela vai voltar para a natureza.Mas o assunto é realmente preocupante, antes das chuvas que caem agora aqui em São Paulo, tínhamos queimadas praticamente todos os dias aqui na região, inclusive na vizinha Caieiras houve um incêndio de grandes proporções. Isto têm afugentado os bichos para as áreas urbanas, aqui mesmo no meu quintal tenho percebido um aparecimento incomum de cobras e pássaros que antes só víamos de longe. Isso é preocupante não só pelo fato de estarmos tomando o habitat destes animais, mas também pelo fato de que as pessoas não sabem como lidar com a presença deles. A maioria é morta por puro pânico e despreparo da população.