AFRA BALAZINA da Folha de S.Paulo
Todas as aves que podem ser vistas no Pantanal, na Amazônia e até mesmo nas inóspitas áreas urbanas de São Paulo - as 1.820 espécies reconhecidas oficialmente no país e outras 50 ainda discutidas pela comunidade científica - estão descritas no livro "Aves do Brasil - Uma visão Artística", do ilustrador Tomas Sigrist.
A arara-canindé, que vive em bandos de até 25 aves. Depois de 20 anos de pesquisas por todo o país, Sigrist conseguiu reunir desenhos de 1.870 aves que vivem ou passam pelo Brasil. Em alguns casos, foram feitos desenhos dos machos, fêmeas e jovens da mesma espécie, pois eles podem ter cores e plumagens diferentes.Além das cerca de 3.000 ilustrações, o leitor encontra as características de cada pássaro. O desenho que deu mais trabalho, segundo o autor, foi o do udu-de-coroa-azul, pela necessidade de combinar quatro diferentes técnicas de pintura (aquarela, guache, acrílico e aerografia)."Foi necessário representar a infiltração dos raios de luz solar pela vegetação, típica do habitat da ave. Também precisei consultar herpetologistas [especialistas em répteis] para a correta identificação do tipo de presa que a ave segura no bico, um lagarto mabuia. A obra demorou 30 dias para ser concluída", conta.Apesar de ter sido a ave mais complexa para desenhar, o udu-de-coroa-azul não é a sua preferida. "Acho tucanos mais bonitos. São aves sociais, e há um forte impacto encontrar dez a 12 delas na mata, na copa das árvores, com aquele colorido todo. Quem vê pela primeira vez fica extasiado."
O uru-de-coroa-azul, ilustração considerada mais difícil pelo autor. O ambiente que mais o impressionou na busca pelas aves foi a mata atlântica. "Apesar de ser um dos ecossistemas mais ameaçados do país, há uma grande diversidade. Na Amazônia, andamos por dias e dias e acabamos encontrando as mesmas espécies. Elas ficam muito espalhadas." Já no Pantanal, as aves chamam a atenção porque vivem em bandos. Uma das mais lembradas é o colhereiro, uma ave cor-de-rosa muito confundida com o guará, que é vermelho. Essa última pode ser observada em Cubatão - gosta de viver em mangue e em áreas próximas ao mar. Entre as espécies retratadas, uma delas está extinta, a arara-azul-do-Sul. " Ainda é possível preservar e manter muita coisa no país", diz o autor. O Brasil é o terceiro país do mundo com mais espécies de ave (atrás da Colômbia e do Peru), mas o primeiro em número de espécies ameaçadas: O objetivo do livro é possibilitar que qualquer brasileiro consiga identificar as aves na região em que mora. É uma forma de educar a população mas também pode se tornar um hobby, como ocorre na Europa e nos Estados Unidos.Na obra, são oferecidas dicas de como fazer a observação de aves. Entre elas estão usar binóculo, evitar roupas vermelhas e amarelas (que representam ameaça para os pássaros) e anotar suas características. Depois, é só consultar o livro para identificar a ave ou tirar dúvidas - quando um pássaro for parecido com outro, mapas de ocorrência da espécie podem ajudar a encontrar o observado. Um CD com o canto de alguns pássaros (sabiá, bem-te-vi, araponga e entufado) acompanha o livro. No total, há 60 gravações. Mostram cantos de alerta e de namoro, por exemplo. Grande metrópole cercada de cinza e concreto, a cidade de São Paulo concentra entre 250 e 300 espécies de aves, de acordo com Sigrist. "Isso se levarmos em conta não apenas a área urbana, mas também a serra da Cantareira e os parques", diz. A Cantareira é um local privilegiado para encontrar pássaros na capital. Outro ponto indicado, segundo ele, é a mata no entorno da represa Billings. "O pavó, ave ameaçada de extinção, eu vi muitas vezes por lá." No parque Ibirapuera, os moradores de São Paulo, se ficarem atentos, podem ver até 120 espécies --Sigrist já ilustrou um guia de aves do parque, elaborado pela Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente. No Estado, há outros pontos de destaque. Ubatuba, próxima da serra do Mar, é referência na observação de pássaros. Iguape, no Vale do Ribeira, possui mangue e reúne aves marítimas.
Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u120038.shtml acesso em 05/01/2009
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