A lógica mais repetida pelos governantes de países pobres é a de que as leis de proteção ambiental limitam a atividade agrícola e a exploração dos recursos naturais e suas florestas, o que pode contribuir para o aumento da pobreza. Eles temem uma redução ainda maior das atividades econômicas nessas regiões pouco desenvolvidas. Como a extensão das áreas protegidas mais que dobrou nos últimos 20 anos, a preocupação dos governantes com o impacto social dessas reservas também cresceu.
Porém, a aplicação de leis de preservação do meio ambiente pode ter uma consequência economicamente favorável: a ampliação da rede turística nos locais protegidos, o que demanda investimentos em infra-estrutura e, por consequência, a geração de empregos. O turismo já emprega 10% dos trabalhadores do planeta e o ecoturismo vem crescendo a um ritmo de 20% ao ano.
Há que se considerar que proteger a diversidade biólogica para as gerações futuras não é barato. Em uma análise publicada na revista Nature, em 1999, o economista e professor da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, Alexander James estimou que, no mundo todo, seriam necessários US$ 17 bilhões por ano para criar e manter um sistema de preservação que cubra 15% da superfície do globo - e este não seria o único custo envolvido. Mas o turismo seria capaz de compensar os investimentos e a limitação a outras atividades econômicas. É o que demonstra um estudo publicado esse ano em uma das revistas científicas mais respeitadas no mundo, a Proceedings of the National Academy of Sciences. Uma equipe de economistas e geógrafos estimou o impacto de áreas protegidas na situação social da Costa Rica e da Tailândia ao longo de 20 anos. Nos dois países, as reservas foram criadas em regiões miseráveis - na Costa Rica, os moradores dessas áreas eram três vezes mais pobres do que a média do país.
Em sua análise, os autores do estudo encontraram provas de que o grande impacto da proteção do ecossistema foi melhorar a integração dos habitantes à floresta e aliviar a pobreza. Na Tailândia, uma simulação a respeito do que aconteceria se aquela mata não fosse protegida indicou que os moradores seriam 30% mais pobres do que são atualmente. As experiências bem-sucedidas da Costa Rica e Tailândia lançam uma nova luz sobre o trabalho iniciado pelo Brasil em 2002 com as áreas protegidas da Amazônia, que pretende transformar até 2013, 60 milhões de hectares em áreas de preservação ambiental e exploração do ecoturismo ao custo de US$ 180 milhões. Com isso, a parte brasileira da floresta, que tem 23% de área protegida, passaria a 30%. Este foi o primeiro estudo do gênero, mas faz sentido: áreas de matas não se desenvolvem com plantações predatórias e extrativismo desorganizado.
Texto: Paulo Ferraro, é economista e professor da Georgia State University
Fonte: Revista Galileu, Agosto de 2010, nº 229, p. 96-7
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